terça-feira, 24 de maio de 2011

Preguiça

Como isto está muito parado ultimamente deixo-vos aqui um excerto de "O Direito à Preguiça" de Paul Lafargue:

"Na barraca, começar-se-á pela Farsa Eleitoral.

Diante dos eleitores com cabeças de madeira e orelhas de burro, os candidatos burgueses, vestidos como palhaços, dançarão a dança das liberdades políticas, limpando a face e o posfácio com os seus programas eleitorais de múltiplas promessas e falando com lágrimas nos olhos das misérias do povo e com voz de bronze das glórias da França; e as cabeças dos eleitores gritam em coro e solidamente: hi han! hi han!

Depois começará a grande peça: O Roubo dos Bens da Nação.

A França capitalista, enorme fêmea, de face peluda e de crânio calvo, deformada, com carnes flácidas, balofas, deslavadas, com olhos sem vida, ensonada e bocejando, está reclinada num canapé de veludo; a seus pés, o Capitalismo industrial, gigantesco organismo de ferro, com uma máscara simiesca, devora mecanicamente homens, mulheres, crianças, cujos gritos lúgubres e terríveis enchem o ar; a Banca com focinho de fuinha, com corpo de hiena e mãos de harpia, rouba-lhe habilmente do bolso as moedas de cem soldos. Hordas de miseráveis proletários descarnados, escoltados por gendarmes, de sabre desembainhado, expulsos pelas fúrias que os zurzem com os chicotes da fome, trazem para os pés da França capitalista montes de mercadorias, barricas de vinho, sacos de ouro e de trigo. Langlois, com os calções numa mão, o testamento de Proudhon na outra, o livro do orçamento entre os dentes, põe-se à frente dos defensores dos bens da nação e monta a guarda. Uma vez depostos os fardos, mandam expulsar os operários à coronhada e a golpes de baioneta e abrem a porta aos industriais, aos comerciantes e aos banqueiros.

De cambolhada, eles precipitam-se sobre o monte, tragando tecidos de algodão, sacos de trigo, lingotes de ouro, despejando pipas; sem poderem mais, sujos, nojentos, ficam prostrados nos seus excrementos e nos seus vómitos... Então ribomba o trovão, a terra agita-se e entreabre-se, surge a Fatalidade histórica; com o seu pé de ferro ela esmaga as cabeças daqueles que soluçam, cambaleiam, caem e já não podem fugir, e com a sua grande mão derruba a França capitalista, estupefata e suando de medo.

Se, desenraizando do seu coração o vício que a domina e avilta a sua natureza, a classe operária se erguesse com a sua força terrível, não para reclamar os Direitos do Homem, que não são senão os direitos da exploração capitalista, não para reclamar o Direito ao Trabalho, que não é senão o direito à miséria, mas para forjar uma lei de bronze que proíba todos os homens de trabalhar mais de três horas por dia, a Terra, a velha Terra, tremendo de alegria, sentiria saltar nela um novo universo... Mas como pedir a um proletariado corrompido pela moral capitalista uma resolução viril?
"


segunda-feira, 21 de março de 2011

O estado das coisas

Partilho com vocês um texto que encontrei nas minhas deambulações internáuticas, por Mia Couto.

"Geração à Rasca - A Nossa Culpa



Para reflectir.




Um dia, isto tinha de acontecer.
Existe uma geração à rasca?
Existe mais do que uma! Certamente!
Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.
Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações.
A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também
estão) à rasca são os que mais tiveram tudo.
Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.

Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.
Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.
Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.

Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.

Foi então que os pais ficaram à rasca.
Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem
Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.
São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.

São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!

A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas.

Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.
Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.
Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.
Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.
Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.
Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.
Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.
Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.

Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração?
Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).
Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja!, que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.

E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!

Novos e velhos, todos estamos à rasca.
Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.
Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.
A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la.
Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam.
Haverá mais triste prova do nosso falhanço?
Pode ser que tudo isto não passe de alarmismo, de um exagero meu, de uma generalização injusta.
Pode ser que nada/ninguém seja assim."

terça-feira, 8 de março de 2011

Dia Internacional da Mulher

O Dia Internacional da Mulher terá nascido porque no dia 8 de Março de 1857, as operárias de uma fábrica de tecidos em Nova York ocuparam a fábrica, reivindicando melhores condições de trabalho, redução na carga diária de trabalho para dez horas (por oposição às 16 horas que trabalhavam), equiparação de salários com o sexo masculino e um tratamento digno no local de trabalho.
A manifestação foi reprimida com violência, as mulheres trancadas dentro da fábrica e a mesma incendiada. 129 morreram carbonizadas!

Em ocasião da comemoração do Dia Internacional da Mulher, na cidade de Petrogrado (São Petersburgo), em 23 de Fevereiro de 1917 (8 de Março no calendário Gregoriano) as operárias da indústria têxtil encetaram uma greve contra a fome, o czar Nicolau II e a participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial. Tais manifestações eram normais naquela época, no entanto, as mulheres não foram reprimidas pela polícia e conseguiram juntar a si os operários e os cossacos (militares com forte sentido de lealdade ao czar e da qual o regime dependia). Tal acontecimento precipitou a Revolução de Fevereiro que culminou na queda do czar.

Entretanto o Dia Internacional da Mulher caiu no esquecimento. Somente na década de 60 do século passado é que o movimento feminista recuperou tal dia. Na década de 70 a data foi oficializada pela ONU (Organização das Nações Unidas).

Por tudo o que a mulher representou e representa para a humanidade, nada mais justo que um dia de reverência e homenagem a ela. O bloga felicita todas as mulheres, especialmente as suas leitoras, neste seu merecido dia.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Anúncios - a resposta tardia

Desde já peço desculpa. Não sei se consigo justificar cabalmente a minha ausência e a consequente inactividade do bloga. Poderia começar por dizer...



Mas não foi isso que me impediu de publicar mais cedo. Na verdade, não publiquei mais cedo porque... bem... me roubaram as ideias e eu... eu senti-me assim:



Agora já passou. E para aqueles que vaticinavam a morte do bloga, aqui está o meu derradeiro contributo!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Anúncios: as escolhas do Bloguótico!

Como anunciado, é tempo de falar em... anúncios, passo o pleonasmo propositado! As escolhas d' O Mítico já são conhecidas, pelo que, por enquanto, resta a mim recordar algo que de imediato me veio à memória, no momento em que o trio maravilha decidiu abordar o tema "anúncios publicitários"! Trata-se de um clássico anúncio publicitário à manteiga "Flora", com a participação especial de Eduardo Madeira! Creio que o anúncio remonta a 2008 e, talvez por isso, sempre que me recordava da célebre frase «Onde é que está o leite?», não a conseguia associar a imagem alguma do anúncio, até agora:

Devo confessar que a minha participação neste novo desafio, iria resumir-se a este spot publicitário por ser aquele que imediatamente me surgiu! Porém, depois de tanto ouvir falar em pão e tostas, digamos que me deu sede.!.. E o que combate a sede, nomeadamente?! Água, pois! E quem diz água diz... "Frize", inevitavelmente! Quem não se recorda da parvoície que o Sr. Pedro Tochas imprimia a cada um dos seus anúncios?!! Será, certamente, difícil seleccionar um como sendo o mais parvo, mas o que se segue é, quanto a mim, um dos que mais se aproxima a tal! Já o revi algumas vezes e garanto-vos, «Tou que nem posso»:

Enfim... poderiam ser outras, mas estas foram as escolhas do Bloguótico!

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Novo desafio: anúncios

Findo o nosso primeiro desafio, cabe-me mais uma vez inaugurar o seguinte.

Depois de muito pensar, o trio decidiu-se a descobrir anúncios ou simplesmente relembra-los e partilha-los com quem porventura visite o blog.

O génio humano é imenso e, caso haja dúvidas, basta analisar a quantidade de anúncios fantásticos que existem para as dissipar.

Não direi que os anúncios que irei partilhar aqui convosco são os melhores de sempre... É impossível determinar isso e não duvido que hajam melhores. Mas seleccionei estes três que estavam retidos na minha memoria já há algum tempo.





Este anúncio precisou de 606 takes e quatro dias para ser filmado e para as interacções das diferentes peças funcionarem.
Nota: para quem se esteja a interrogar, os pneus a subir a rampinha não é falso, aquilo acontece mesmo devido a umas certas leis da física e à estrutura do pneu que sou demasiado ignorante para conhecer, mas não para ignorar que é verdade.





Este explica-se a si mesmo.





E este também, hehe.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

1º desafio - o balanço

A ideia de criar desafios no bloga surgiu na decadência de uma das cada vez menos habituais tertúlias que os contribuidores do bloga levam a cabo quando a azáfama do quotidiano nos resolve conceder uma trégua simultânea.
Tudo terá começado com uma proposta envergonhada e embrionária que tinha como intuito fomentar e dinamizar a produção no nosso projecto conjunto, "Uma bloga d' arte", e, por outro lado, afastar a letargia, espicaçando o ânimo do elemento mais inerte do trio.
A proposta foi aceita, aclamada e aperfeiçoada, culminando neste primeiro desafio, que, analisados os resultados, superou o sucesso expectável. Não só satisfez o intuito como abriu novos trilhos, franqueando fronteiras. Refiro-me concretamente a contribuições externas em que o destaque vai para a Miss B, que nos presenteou com a sua visão peculiar sobre o tema e que ademais a visita do blog se recomenda. Classificar o blog da Miss B interessante é pouco, pornográfico demonstra-se excessivo. Uma coisa é certa, é um blog que abala as fundações de quem o experimenta.
Por outro lado, atraímos a M: M. aos nossos comentários, que também deu o seu contributo e cujo blogue inteligente, acutilante e inesperado se recomenda também.
Para fechar este desafio fica a faltar um post com a visão da M: M. sobre o assunto mas há que prosseguir para mais um desafio (fica, no entanto, aberto o espaço para o mesmo). Ora, como neste desafio houve um claro empate entre BAPHOMET e Bloguótico, caberá ao Mítico lançar mais um desafio. Ficamos a aguardar Secundino.